Nem é preciso ser adivinha para apostar que, depois de uma temporada carregada de cores vibrantes, o preto voltaria com força total. Ao longo dos tempos, essa sofisticada “não cor” transformou-se na cor do design e da modernidade. E agora o preto reaparece injetando na nova estação sobriedade, refinamento, elegância e funcionalidade – paradoxalmente é também jovial e luminoso, uma cor chique, pura, segura. Sinais deste novo momento estão por toda a parte: seja na bela edição especial da Vogue francesa de setembro, seja no Style.com, que deu todas as pistas no belo artigo Black is the new Black. Em Paris, também verifico o entusiasmo com os novos acessórios da linha Noir, da Valentino, e com as botas Givenchy. Em preto, se tornaram objeto de desejo com listas de espera intermináveis.
Sempre gostei da roupa preta com qualidade, que me faz sentir segura, parecendo mais magra(!). Além de sofisticado, o preto também permite repetir a roupa sem muito estresse. A ideia fashionista mais esperta do momento é apostar em acessórios e peças fundamentais da estação em total black para personalizar o look, associando-os às imperdíveis e preferidas que você já possui. Vide, por exemplo, as escolhas, em sua recente passagem pelo Brasil, da francesa Carine Roifeld: top étnico exuberante de Joseph Altuzarra deste inverno + saia longa reta com corte de alfaiataria sem firulas + sandálias de megaplataforma impetuosa e colorida do próximo verão da Balenciaga.

Looks icônicos: um LBD da Chanel, em clique de 1926, e o
smoking de Yves Saint Laurent em foto de Helmut Newton
Cor do luxo e do chique absoluto, o preto também é rebelde. Descubro que, nesse tom, foram transgressoras e sombrias as roupas dos piratas do século 17, dos anarquistas do século 20 e, coisa que já sabemos, dos hell angels, punks e góticos mais recentemente. Sem concessões, a cor fez história com Chanel em 1926, quando a estilista lançou o LBD, seu famoso “pretinho básico”, que a imprensa da época batizou de “o Ford T da moda”, fazendo um paralelo com o primeiro automóvel fabricado em série, lançado só em negro. Nos anos 70, a cor conquistou um novo registro, mais acessível e igualitário, com o advento do prêt-à-porter. A reviravolta mais provocadora pós-Chanel, entretanto, foi de autoria de Yves Saint Laurent. Com seu smoking preto – tão bem explorado fotograficamente por Helmut Newton –, ele se apropriou de um símbolo do guarda-roupa masculino e subverteu sua função, transformando-o em traje de sedução feminina. Foi o ápice do momento unissex da moda, até hoje reverenciado.
Outro instante definitivo e forte da reinvenção do preto foi a irrupção revolucionária dos japoneses Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo nos anos 80. Com suas roupas negras sabiamente desconstruídas, de estética andrógina e assexuada, eles desafiaram os conceitos ocidentais relativos à forma do corpo e à concepção do vestuário, contestando de certa forma o status quo do glamour altivo e meio careta da época. O atual comeback do preto, entretanto, faz mais referência ao erotismo extremo que Tom Ford imprimiu na Gucci e na YSL nos anos 90 que ao desconstrutivismo revolucionário dos japonistas dos 80.

Givenchy, inverno 2013
Veja por exemplo o que Riccardo Tisci vem fazendo para a Givenchy, com sua alfaiataria de toque fetichista, retomando o preto quase total – com misteriosa tensão –, resultando num depoimento poderoso para este inverno europeu. Notáveis, os vestidos-lingerie de chiffon e rendas impalpáveis são usados com as já famosas it-botas, em mais um jogo de revela-e-esconde. Seu forte, os casacos, são quase todos pretos com texturas contrastantes: brilhantes versus opacas. A alfaiataria, ligeiramente masculina na frente, revela costas com feminilissímos peplums e recortes à maneira de espartilhos, em pura provocação dark.

P&b na semana de moda de Nova York: no verão 2013 de Victoria Beckham e Marc Jacobs
Nos recentes desfiles de Nova York para o verão 2013, o preto segue em evidência. Nesse caso, a combinação mais constante é com o branco. Verdadeiro yin-yang da elegância, as duas cores de energias opostas são absolutas. Expressam as mais delicadas vibrações e ilimitadas possibilidades. Em tempos cada vez mais acelerados, de renovação instantânea, pode-se apostar no preto para ser diferente, para sair do turbilhão, da corrida ofegante pela novidade, longe das impaciências do consumo. E no preto com branco também. Essas duas cores, que oscilam entre a presença e a ausência, são uma bem-vinda e necessária pausa chique. (COSTANZA PASCOLATO)
Fotos: Getty Images

Fonte: Vogue Brasil